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6.9.06

É o fim do mundo!

Isso só acontece comigo! Não sei como não aconteceu antes, estava bom demais pra ser verdade! É a velha história... Depois da calmaria... E quando a calmaria é das grandes, como essa... Ih!... A tempestade é das apocalípticas.
Tudo isso pensou ele, em quinze segundos. Continuava imóvel, inconsolável; olhar distante, triste, vazio. Não conseguia entender por que o mundo era tão severo com ele. Nunca as coisas aconteciam, para ele, de maneira satisfatória.
Pensava, agora, em como reagiria, se iria estender a mão e, buscando a precisão, tentaria resgatá-la, e acabar logo com aquela situação, para ele, trágica.
Primeira tentativa... Expectativa... Nada, não conseguira.
Imagine, se conseguiria, logo eu... Resmungou ele, em um tom indefinido, entre o trágico e o sarcástico.
Segunda tentativa... Frustração. Nesse momento quase desistiu, tamanha a decepção. Mas resolveu, com força tirada não sei não sei donde, continuar, seguir, tentar mais uma vez. Sua derradeira chance.
Ah! Tava na hora! Disse, vitorioso.
Havia conseguido tirar a tampa do creme dental da boca do ralo da pia. Sim, fácil, ali, em cima do “mais” (+) misterioso, por onde acontece uma breve divisão da espuma dêntalo-cremosa que se esvai pela escuridão, após sair de nossa boca, desaparecendo pelo cano abaixo do “+” que sustentou... bravamente a inocente tampa, até que fosse heroicamente resgatada.
Agora sim, satisfeito, guardou o creme e a escova, olhou-se no pequeno espelho de moldura de cor alaranjada, pensou no quanto o mundo era cruel com ele. Chegou à conclusão de que era parte do seu destino, fatídico, pelo jeito.
Virou-se. Saía do banheiro quando, subitamente, de sobressalto, viu a cor amarelada no vaso sanitário. Era urina. Alguém havia deixado de puxar a cordinha para desencadear o processo de descida da água da caixa para o vaso, o que acarretaria levar a urina embora.
Agora, tinha que fazer uma difícil escolha: se iria ou não voltar um passo e dar a descarga. Como conseqüência desse possível ato, ter que voltar outro passo, lavar as mãos, o que implicaria secá-las.
Oh, céus! O que mais querem de mim?! Falou ele, com um sarcasmo ácido – quase corrosivo –em seu tom de voz.
E, realmente, desse jeito era ele castigado diariamente pela vida... Pelo destino... É o fim do mundo!

Marco Vicente Dotto Köhler – Imbituba, maio de 2006.

3 comentários:

Anônimo disse...

É mesmo uma tempestade... em copo d'água!
bjus

Anônimo disse...

É o fim!

Anônimo disse...

Beijinhos Marco e muito obrigada pela visita!