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30.9.06

Memória... Ilha de edição

Sobre escrito de Waly Salomão, na matéria de Carlos Nader, na edição número 142 da revista Trip.

E como não lembrar do gosto do cheiro da borracha do bico da mamadeira Hilo, recheada de leite recheado de Nescau e mel, isso tudo bem quentinho, entregue na cama bem cedinho pela mãe naquelas manhãs frias em que não se quer ir pra escola, só se pensa, sonolento, em continuar ali sonolento, “soterrado” por cobertores no aconchego da cama.
Até o dia em que chegou a independência e passei, sentindo nos ombros todo o peso da responsabilidade, a acordar de manhã e ir, sozinho, até a cozinha para tomar o Nescau matinal, em uma xícara – não mais na mamadeira, uma das primeiras independências depois que já se aprendeu a escovar os dentes e a limpar a bunda sem ajuda de ninguém... Que maravilha! Que felicidade!
Mas a memória é assim mesmo... Ah! Como era bom ser criança e sonhar. Sonhar em ser adulto, ser piloto de motocross, astronauta, advogado, médico ou jogador de futebol; namorar aquela colega da escola por quem se é apaixonado – do jardim-de-infância até a universidade; dirigir o carro; sair à noite e voltar de madrugada sem ter hora para voltar...
Ah! Memória seletiva, editada sei lá por quem, provavelmente por um eu que não conheço, mas que deve ter as suas razões de ser... Graças a ti, ilha de edição, é que se olha para trás e tudo parece melhor do que realmente foi...
Por: Marco Vicente Dotto Köhler.

A vida tem o tempo.. ou não.

A vida tem o tempo. Engano.
O tempo engole a vida, num segundo mal pensado,
mal falado, mal agido: silêncio.
Escuridão.
Gélido corpo inerte: fim.

Por Marco Vicente Dotto Köhler

26.9.06

saudade... é o que fica.


Sapatos à mão e cabelos ao vento

Olhe só, aquele menino chegando com os sapatos nas mãos.
Olhe só, aquele menino chegando, com o cabelo ao vento, cobrindo os olhos.

Olhe só, como aquele menino, que vem chegando, está pálido.
De onde será que ele vem?
Será de muito longe?
Ou de tão perto que não podíamos mais notá-lo?
Ou será que ele vem de tantos lugares que nem podemos imaginar?

Ouça o que esse menino que chegou tem a dizer.
Ouça com atenção, parece importante o que ele tem a dizer.

Ouviram com atenção o que tinha ele a nos dizer?
Gravaram bem o que ele disse?
Viram, como era mesmo importante o que ele tinha a nos dizer?

Para onde será que vai aquele menino que vinha chegando,
Com os sapatos nas mãos e algo a nos dizer?

Será que ele vai voltar para o lugar de onde veio?
Parece ser longe do sol, não?

Ou será que ele irá para outro, mais quente e aconchegante?

Não sei. Não sabemos. Sei que ele partiu depressa,
Após nos dizer algo importante,
E não sabemos quando ou se irá voltar...


Por: Marco Vicente Dotto Köhler – 04/11/2005.

24.9.06

Novo início: poesias & poemas

Inicia-se hoje no "Coisas de Marco" a publicação de algumas/alguns de minhas/meus poesias/poemas.

Essa primeira chama-se:

Morena cigana

Não vou mentir, dizer que pensei em ti o dia todo.
Não posso negar: pensei várias vezes o dia todo.

Ainda não sinto tua falta tanto assim, mas sinto sua falta, sim.
Quero-te tanto, quero-te tão bem, assim, aqui junto de mim.

Não quero te prender, tão pouco te perder...
Não posso te prender aqui, tão pouco te deixar ir, assim, sem mais nem por quê...

Penso no que dizer pra ti. Não quero pensar, quero dizer.
Penso no que posso sentir por ti. Não quero pensar, quero sentir.

Penso no que penso de ti.
Penso no quanto penso em ti.

Não quero pensar.
Não me quero só.
Quero-te, só.

Por: Marco Vicente Dotto Köhler

19.9.06

A Revolta da Conclusão

Em suma, é isso! – disse a Conclusão, que resolveu não ficar por último dessa vez.
A Introdução se irritou pouco, mas logo se acalmou, convencida de que o que todos querem mesmo é a Conclusão, que, pensou ela, deve ser a mais charmosa e convincente, já que a maioria parte sem nem se despedir, ansiosos para encontrar logo com essa tal Conclusão – a irritação, que é momentânea, passara mas restava ainda um pouco de mágoa nesse desdém.
O Desenvolvimento, por sua vez, ficou irado, afinal, considera-se o mais importante de todos. Por quê – perguntou ele, já um tanto inchado pelo próprio ego, que quase transcende a própria forma. Ah! É simples: porque, em primeiro lugar, sou “ELE” – continuou, prepotente, demonstrando seu machismo. Em segundo, porque todos passam mais tempo comigo do que com os outros! A introdução só serve para chegar até mim, “o que interessa”, ou, melhor, serve para que se concentrem, pois com isso estarão livres das distrações do mundo exterior, o qual não sei para que serve, afinal, para quê o resto, se existe EU? – disse, impassível.
Já com a conclusão o papo é outro. Por mais que tente se sobrepor, no fim das contas ela é irrelevante, pois como todos sabem, o que importa sou eu, o desenvolvimento! – respirou fundo, olhou ao redor, certificou-se de que estavam todos depositando nele toda a atenção, que já era quase palpável a essas alturas, e continuou: ela, a Conclusão, pensa que é mais importante. Coitada, não entende que só está ali para que eu, “o cara”, não fique naquela periferia inferior, infestada de prolixidade de toda sorte – disse, admirando seu belo traje literal.
Por fim, a Conclusão que fique lá no início, junto com a Introdução, elas se merecem, por estarem na mesma casta. Sei que sou tão importante que sem mim elas não sobreviveriam e ninguém entenderia nada! – arrematou o Desenvolvimento, que mesmo sem a Introdução e a Conclusão, deu o assunto por encerrado.

6.9.06

É o fim do mundo!

Isso só acontece comigo! Não sei como não aconteceu antes, estava bom demais pra ser verdade! É a velha história... Depois da calmaria... E quando a calmaria é das grandes, como essa... Ih!... A tempestade é das apocalípticas.
Tudo isso pensou ele, em quinze segundos. Continuava imóvel, inconsolável; olhar distante, triste, vazio. Não conseguia entender por que o mundo era tão severo com ele. Nunca as coisas aconteciam, para ele, de maneira satisfatória.
Pensava, agora, em como reagiria, se iria estender a mão e, buscando a precisão, tentaria resgatá-la, e acabar logo com aquela situação, para ele, trágica.
Primeira tentativa... Expectativa... Nada, não conseguira.
Imagine, se conseguiria, logo eu... Resmungou ele, em um tom indefinido, entre o trágico e o sarcástico.
Segunda tentativa... Frustração. Nesse momento quase desistiu, tamanha a decepção. Mas resolveu, com força tirada não sei não sei donde, continuar, seguir, tentar mais uma vez. Sua derradeira chance.
Ah! Tava na hora! Disse, vitorioso.
Havia conseguido tirar a tampa do creme dental da boca do ralo da pia. Sim, fácil, ali, em cima do “mais” (+) misterioso, por onde acontece uma breve divisão da espuma dêntalo-cremosa que se esvai pela escuridão, após sair de nossa boca, desaparecendo pelo cano abaixo do “+” que sustentou... bravamente a inocente tampa, até que fosse heroicamente resgatada.
Agora sim, satisfeito, guardou o creme e a escova, olhou-se no pequeno espelho de moldura de cor alaranjada, pensou no quanto o mundo era cruel com ele. Chegou à conclusão de que era parte do seu destino, fatídico, pelo jeito.
Virou-se. Saía do banheiro quando, subitamente, de sobressalto, viu a cor amarelada no vaso sanitário. Era urina. Alguém havia deixado de puxar a cordinha para desencadear o processo de descida da água da caixa para o vaso, o que acarretaria levar a urina embora.
Agora, tinha que fazer uma difícil escolha: se iria ou não voltar um passo e dar a descarga. Como conseqüência desse possível ato, ter que voltar outro passo, lavar as mãos, o que implicaria secá-las.
Oh, céus! O que mais querem de mim?! Falou ele, com um sarcasmo ácido – quase corrosivo –em seu tom de voz.
E, realmente, desse jeito era ele castigado diariamente pela vida... Pelo destino... É o fim do mundo!

Marco Vicente Dotto Köhler – Imbituba, maio de 2006.

2.9.06

Mas, como pode?

Três mil e tantos cientistas decidiram que Plutão não é mais um planeta. De agora em diante é um planeta-anão.
Saíram todos satisfeitos e felizes da enorme sala de conferência.
Por favor, não se deixem enganar por esses “caras” sorridentes, afinal de contas, eles acabaram de eliminar um Planeta do sistema solar.
E, segundo fonte segura, estão com sérias intenções de eliminar mais um.

Já imaginaram o que podem fazer com meros mortais como nós? Não? Pois é melhor começarmos a nos preocupar, pois podemos acordar de manhã e, ao abrir a porta não ter mais céu e nos depararmos com a manchete no jornal: “Cientistas resolveram que o céu não existe”. Pode ser exagero, sei.
E se eles determinassem que o nome da água não é mais água, mas álcool etílico, teríamos todos cirrose?

Então, digamos que eles deixem o céu e a água do jeito que estão, mas determinem, por exemplo, que de agora em diante a Terra não é mais Terra, e sim Lua. Seríamos então todos lunáticos?

É, será que são os deuses cientistas, e não astronautas como defendera Erik Von Daniken no mundo pré Plutão-anão? Quem pode saber?

Na dúvida, é melhor ficar atento, pois, se eles entenderem que você não existe, ou que você não é você, isso pode não ser muito bom. Principalmente para você.