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28.3.07

... e não sou piegas!

O que posso dizer dessa mediocridade,
dessa hipocrisia, dessa busca pelo "poder"?
Rir. Só me resta rir. Pobres coitados!
Quero conhecer, viajar, saber, sentir, amar.
E não sou piegas!
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Por Marco Vicente Dotto Köhler.

22.3.07

O traidor

O ônibus estava no meio do caminho, no trajeto de aproximadamente 50 km, que percorria diariamente.
Estava lotado, mas sem ninguém em pé. Naquele horário era normal que estivesse lotado, pois era o horário que os estudantes voltavam da faculdade na cidade vizinha. Nesse dia, não fora diferente.
Um casal, sentado na parte mais à frente, poltronas 7 e 8, mais ou menos, estava a conversar, normalmente. Normalmente para um casal apaixonado, pois estavam sempre trocando beijinhos, afagos e olhares que só se vê em casais apaixonados.
De repente, a namorada, uma moça, já com seus vinte e tantos anos, afasta-se de seu namorado, quase se encostando na janela, e pergunta, entre a incredulidade e a indignação:
- como é que é?! Esteve com ela essa noite de novo?
- mas foi só para dormir – tentou explicar ele.
- “só para dormir”? Quanto cinismo! Que cara-de-pau você, hein! Seu canalha! Cafajeste!
- amorzinho, já disse, gosto dela, mas só para dormir, não tenho mais nada com ela.
- não acredito que você fez isso e ainda tem a coragem... coragem, não! Safadeza, de me contar. E ainda se desculpa, dizendo que é “só para dormir”! que “não tem nada com ela”! I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL!! – já entre dentes, tremendo de raiva.
- mas, meu bem – tentou ele novamente – o que é que tem demais nisso? Gosto de passar uma noitezinha com ela de vez em quando. É bom.
- inacreditável, mesmo! Vou esganar você! Torcer teu pescoço! O que é que você estava pensando, hein?!
- mas...
- chega de “mas”! “mas isso”, “mas aquilo”! Credo! Você deveria se envergonhar de dormir com ela. Com E-LA! Ainda se fosse outra... hah! Mas não, tinha que ser justamente ela, aquela maldita camiseta daquela banda que não suporto! Nem o nome quero dizer! Uich! Que ódio!
- amor, não fica assim.
- não me venha com mais desculpas, já te falei sobre isso. Você sabe muito bem que...

As luzes do corredor forma acesas. Era o meu ponto. Desci. Fiquei curioso para saber qual banda pode ser assim tão odiada...
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Por Marco Vicente Dotto Köhler

14.3.07

Concurso Literário

A Revista Piauí está promovendo, mensalmente, um "concurso literário", que consiste no seguinte: "Se você acha que tem talento para as letras, participe do concurso Encaixe a Frase, mais uma estupenda idéia de piauí. A coisa funciona assim: todo mês, publicaremos uma frase sem pé nem cabeça. Ao leitor-candidato caberá desenvolver um contexto que a torne sensata, que lhe confira pé e cabeça – se tiver tronco e membros, melhor ainda. Os textos poderão conter 3.200 caracteres (com espaços) e devem ser enviados até o dia 20 de cada mês para o endereço encaixe@revistapiaui.com.br. O melhor deles sairá na revista – ou seja, perdurará na língua portuguesa pela eternidade afora. À medida que as tentativas forem chegando à redação, desde que não assustem crianças, parlamentares ou a bispa Sônia, ficarão expostas à impiedade do juízo público aqui no site. Não deixe de informar seu nome completo e a cidade de onde escreve. Frase do mês de fevereiro 2007: 'Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano!'
Eu, como todo viciado em escrever, resolvi participar do tal concurso. Não fui o vencedor. Nem esperava - Abre-se, aqui, uma discussão filosófica importante: "se não esperava vencer, por que participei?" mas isso é assunto para outro dia.
Já que não foi publicado na Piauí, publico no Coisas de Marco o texto em que encaixei a "frase do mês", com o qual concorri.
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São todos gregos
- oi, Alice.
- oi, tudo bem?
- tudo, e você?
- olha, estava aqui pensando numa palavra que acabei de ler... “mitômano”. O que será?
- ah! Vem do grego.
- sério? Como você sabe?
- todos os mitos são gregos.
- mas você sabe exatamente o que é?
- sim, com certeza. Mitômano é a pessoa que é irmã do mito. Entendeu?
- mais ou menos...
- assim, oh: ele é mano do mito, entende? Por isso, “mitômano”.
- não sei não. Estava pensando que pode ser romano. Sabe por quê?
- hm...
- “mi-tô-ma-no”. “Mano”, de Romano. E “mito”... bem, de mito, claro.
- não, é grego. Garanto.
- garante?
- sim. É grego porque, além de todos os mitos serem gregos, é uma palavra essencialmente grega.“Mito”, vem de “mythos”, que significa... ah! Você sabe: “mito”; e “mano”, vem de “hermanos”, assim como os argentinos, que também são descendentes de gregos, falam.
- continuo com minhas dúvidas... mas, já que você conhece e sabe do que está falando, os mitômanos eram confiáveis, assim como seus irmãos, os mitos?
- olha, Alice, claro que nem todos os mitos são bons, verdadeiros, honestos. Alguns mentiam, trapaceavam... essas coisas. Como o mito do trovão de Atenas, que fez com que os Troianos perdessem a guerra dos cem anos.
- foi na Grécia essa guerra aí?
- claro que foi. As guerras da antiguidade também são todas gregas.
- você é um mito.
- não, o que é isso.
- ah! Mas um “quase mito”, você é. E deve ser irmão de um mito em outra vida, para saber tanto assim das coisas.
- Eu, mitômano? Não, não.
- é, sim. Você é quase um mito. Sabe de todas as coisas que eu pergunto. Você tem todas as respostas e nunca mente para mim... isso é coisa de mito. Ou, pelo menos de irmão de mito.
- não é bem assim...
- claro que é! Você é um mitômano, admita.
- não, não sou, não.
- é!
- não sou!
- é, sim.
- não sou, não insista!
- eu sei que você é!
- pára com isso!
- você é sim, veja o teu nome: José Antônio.
- o que tem isso?
- isso, nada, mas o teu irmão é Hamilton.
- e daí?
- daí que chamam o teu irmão de “Milto”. E “Milto” é quase “mito”.
- tudo bem, “Milto” é quase “mito”, mas Alice, eu já disse que não sou mitômano.
- está bem. Acredito em você, já que você não mente.
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Por Marco Vicente.