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12.11.12

O dia que a Terra girou.


Quando criança, não lembro ao certo a idade, talvez aos cinco ou seis, quando me foi ensinado que a Terra gira em torno do sol e também em torno de si mesma, fiquei absolutamente empolgado com aquelas informações. Achei fantástico.
Mas, de outro lado, aquilo criou em mim um desejo absurdo de conseguir ver a Terra girar. Estava decidido: eu conseguiria fazer aquilo. Iria ver a Terra se movendo.
Todos me disseram que não dava, porque estávamos na Terra e não seria possível ver tal giro. Mas ignorei tais comentários e comecei a tentar, por incontáveis vezes. Não sei quanto tempo tentei.
Um dia, num final de semana em que eu estava na casa do meu pai, sentei na grama ao lado da janela do quarto dele, onde ele dormia após o almoço, e fiquei concentrado nas montanhas no outro lado do Rio Uruguai.
Eu ia ver a Terra girar, e ponto final. Fiquei lá sentado, concentrado... até que.... nossa! Eu vi! Senhores, eu vi a Terra girar. Foi uma sensação indescritível. Senti-me um ser humano especial, dotado da capacidade de ver e sentir a Terra girar! Fiquei absolutamente extasiado.  E comecei a gritar por meu pai, pois queria que ele soubesse que eu tinha conseguido.
 - Pai! Pai! Paaai!!  - eu gritava ao lado da janela, sem mover os olhos das montanhas.
 Meu pai abriu a janela, com o humor característico de quem é acordado da sesta e perguntou o que tinha acontecido. Pedi que viesse para fora, para ver o que eu estava vendo. Era uma visão impressionante.
Ele veio, sentou ao meu lado e perguntou
 - o que tu está vendo, filho?
- pai, tu não vê? Eu consegui!
- conseguiu o quê?
- estou vendo a Terra girar, pai! Olha lá na ponta daquela montanha, que o pai vai ver também!
Nesse momento, meu pai, olhando para onde eu tinha dito, passou a mão da minha cabeça e falou:
- filho, não quero te desanimar, mas o que tu está vendo não é a Terra girar, mas as nuvens passando acima da montanha...
Eu não respondi. Fiquei quieto, pensando que não era um ser humano tão especial quanto pensava, que não tinha o super poder de ver e sentir a rotação da Terra.
Mas, foi bom assim. Melhor cortar pela raiz esse tipo de pensamento. Já pensou se meu pai tivesse deixado que eu acreditasse que era uma espécie de super-homem?

Por Marco Vicente Dotto Köhler, novembro de 2012

Um comentário:

Kelvim Vargas Inácio disse...

E foi aí que tudo começou...