RAZÃO DE SER: Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê? (Paulo Leminski)
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18.12.06
FÉRIAS
30.11.06
Vício, compulsão, ou nada disso?
Mas, afinal, o que foi que aconteceu? Admitira para si o que já para alguns de seus amigos não era novidade: era ele viciado em escrever. Escrevia de tudo um pouco, desde um diário, o qual não era necessariamente “diário”, contos, crônicas, poesias... Enfim, escrevia o que tinha vontade de escrever.
Seu estado era tal que chegara ao ponto de acordar no meio da noite, de sobressalto, ligar a sua inestimável luz de leitura, à cabeceira da cama, e abrir seu caderno em busca de alguma página em branco, para escrever, não importa o que fosse.
Queria mesmo era ver sua letra rabiscada no papel, o que muitas vezes era produtivamente bom, pois, não raro, elaborava bons textos, e em outras servia apenas para saciar sua vontade irreprimível de escrever.
Mas, ultimamente, sua compulsão viciosa pela escrita estava causando-lhe preocupações, pois já estava começando a “pensar escrito”, ou seja: o que pensava ou dizia, ele “via” como se estivesse escrevendo-as no papel (ou no computador, ou na máquina de escrever...), visualizando em sua mente a pontuação, parágrafos, grafia, regras gramaticais, etc.
Estado realmente preocupante este em que se encontrava.
Outro grande passo: o segundo.
Após admitir tal vício, sua decisão foi a de participar de um grupo de, como ele, viciados em escrever, o “Anônimos Viciados em Escrever”, mais conhecidos pela sigla “AVE”.
Era chegado o grande encontro: o primeiro dia, a primeira reunião no AVE.
Chegou ao local das reuniões. Entrou na sala. Sentou-se. Foi saudado com um caloroso “boa noite, seja bem vindo”, de todos os seus novos companheiros, seguido de uma salva de palmas.
Uma das presentes, que estava à frente, em pé, anunciou o novo AVE – modo como chamavam uns aos outros os integrantes do grupo de apoio – e discursou sobre a importância do grupo na recuperação dos viciados em escrever; dos resultados do tratamento, que buscava ajudar as pessoas viciadas nesse terrível mal: escrever.
Ao final de sua apresentação de boas vindas a mulher convidou o novo participante – o novo AVE – a dar o primeiro passo rumo à libertação definitiva do vício de escrever, e disse-lhe: “escreva alguma coisa”.
Sem entender nada, mas feliz por poder escrever algo e ter a chance de poder fazer cessar os primeiros sintomas da abstinência da escrita, pegou o papel e a caneta que lhe foram alcançados e escreveu, deliciosamente, com todo o prazer que isso lhe proporcionava, um texto intitulado: “Vício, compulsão, ou nada disso?”
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Por Marco Vicente Dotto Köhler.
24.11.06
Em outro telefonema...
silêncio, fone no gancho... túuu túuu túuu túuu túuu"
14.11.06
Enquanto isso...
ele atende ao telefone:
- Alô?
- Alô, aqui sou eu, e aí, é tu?
- sim...
- porque tu me ligou?
- Não, eu não liguei, tu me ligou.
- Eu?
- Sim...
- tu não é tu?
- sim..
- Então, se tu é tu e foi tu quem ligou...
- Não, não fui eu...
- E quem foi então?
- Tu!
- Então!! Se tu é tu e foi tu quem ligou!
- Quem está falando?
- Eu, e aí?!
- eu!
- “Eu”? como assim "eu"? Não mesmo! eu sou Eu, tu é Tu!
- sim, mas foi tu quem ligou!
- viu só? Tu mesmo está dizendo que foi Tu quem ligou!
- não, não estou dizendo!
- Hipócrita! Mentiroso! Tchau!
tú tú tú tú tú tú tú tú!
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Por Marco Vicente Dotto Köhler
8.11.06
Até logo, nunca mais.
repousa em uma fria caverna, em que adormecem
sonhos eternos, e distantes, dispersos em fagulhas intermináveis,
pairando sobre andarilhos rumando sem rumo algum,
norteados por lembranças nebulosas, constantes,
intensas, cravadas até os ossos na carne da alma trôpega em
luta presente com o amanhã incerto da aurora fria e vazia que
arma-se no horizonte, nunca antes tão distante ao toque impreciso
das esperanças precisas de quem batalha a cada passo e daria
até a última gota de sangue por apenas
um momento a mais contigo.
______
Por Marco Vicente Dotto Köhler
1.11.06
À vontade, liberdade!
Enquanto observava tais situações e pessoas, prestava atenção ao que se passava consigo e a relação entre ambos: em que situações ficava nervoso, calmo, aparentemente calmo; quando seu coração disparava e quando quase parava; o que o fazia suar ou sentir calafrios; e quando podia ser ele mesmo, sem disfarces, ficar à vontade, sem se policiar.
Ao ficar mais perspicaz em tal “tarefa”, se deu conta de um sinal, ou sintoma que indicava com quais pessoas ele podia ou não ser ele mesmo, sem máscaras, sem “photoshop”: peidar, liberar os gases resultantes da digestão, algo que todos fazemos, mas, mesmo assim, provoca constrangimentos, era, para ele algo que não provocava tal constrangimento.
Pois bem. Após essa explanação / familiarização com a palavra, vamos ao cerne da questão: o sinal, sintoma que revela em quais situações ou com quais pessoas ele se permitia ser ele mesmo, era o “peidar”, mas não somente peidar. Não! É mais complexo. É um conjunto formado por “peidar”, somado a “não constrangimento” e a “não se desculpar”, em suma, sem “peso” na consciência.
Após tal descoberta, passou a peidar na presença de seus pais, da sua namorada, dos sogros, dos colegas de trabalho e amigos.
Peidava e sentia-se feliz por estar na presença de pessoas tão amadas que ele se permitia tal ato, constrangedor na visão preconceituosa da sociedade.
Peidava e sorria. Não um sorriso sacana, de quem peida e se satisfaz ao fazer outros se irritarem, ah não! Sorria um sorriso singelo, quase de ternura, e, em muitas ocasiões, após consumar tal ato “libertador”, dizia: “FUI EU!” e completava: “e o fiz porque amo vocês!”, ou então: “fui eu, e o fiz por sentir-me tão bem aqui!”. Esses são apenas dois dos muitos comentários dessa natureza.
Enquanto ele fazia seus comentários, satisfeito, algumas pessoas, ou por não o compreenderem, ou por não estarem acostumadas àquilo, reclamavam. E ele, sempre sorridente e calmo, replicava: “por que você está tão irritada?” “é tão simples!”. Mas de nada adiantava.
Um certo dia entrou em uma sala, fechou a porta atrás de si, e peidou. Mas peidou, “glamourosmente”, um peido magistral, não muito estrondoso, não muito demorado, um tanto cadenciado, pode-se dizer. Enfim, uma verdadeira obra de arte, uma declaração de carinho – claro que essa é a visão dele.
Ao terminar seu discurso, virou-se, abriu a porta e saiu da sala, seguindo pelo corredor, peidando para cada colega que encontrava, satisfeito.
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Por: Marco Vicente Dotto Köhler – 22 de julho de 2005.
25.10.06
Reencontros futuros
Não tenho mais planos,
Esqueci o que é rumo.
Há sombras, há noite, deserta.
Vozes ressoam planos passados
Ao reencontro futuro, que não mais haverá.
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Por Marco Vicente Dotto Köhler
14.10.06
O lanche do estagiário
Acabara de abrir um pacote de bolachas salgadas, dessas que vêm em três fatias emendadas, com picotes para facilitar o desmembramento das partes de cada fatia. Havia comido duas.
Para acompanhar, tomava café-com-leite, que completava com café-preto para ficar mais forte.
Nesse dia o seu chefe,Emanuel Francisco, estava mais sério do que costumava ser. Tinham eles uma boa relação,se davam bem.
Chico, como chamavam o chefe, era uma pessoa tranqüila, sem estresse, mas estava sério e compenetrado naquele dia por ter um trabalho urgente para terminar e não havia mais prazo: era para dali a algumas horas.
Pedro, sabendo disso, pensou em reduzir um pouco a tensão do seu chefe – “o ‘patrão’ é gente boa”, sempre dizia o próprio estagiário -, e resolveu levar para ele alguns biscoitos salgados, daqueles que estava lanchando.
Entrou na sala, sem bater à porta para não atrapalhar e porque Chico o dispensara há tempos de tal formalidade. Fechou a porta com igual cuidado. Andou dois passos, virou-se e parou em frente à mesa deste, à direita da porta de onde viera.
O chefe o viu, mas de tão atarefado não desviou o olhar do monitor do computador, dizendo apenas um amigável e apressado “oi”.’
Pegou, então, o estagiário, duas das crocantes bolachas, colocou-as na boca, mastigou um pouco, apenas para quebra-las e disse, demoradamente, de frente para o chefe, em alto em bom tom: “FFFffaroffFFFAA!”
A mesa, algumas folhas de anotações e documentos que estavam em cima, o teclado, bem como parte dos cabelos, das mãos e do alinhado terno do chefe ficaram cheios de farelo de bolacha, saídos diretamente da boca do estagiário.
Emanuel Francisco, sem entender o que se passara, olhou para Pedro, que estava com um semblante tranqüilo, quase sorrindo, e disse, sem raiva: “o que é isso? tu é louco?”. O chefe não parecia odioso, nem nada assim, estava estarrecido,apenas, sem compreender o que havia acontecido.
O estagiário, então...
- mais café?
- o quê?
- mais café? – perguntou a secretária, que estava ao lado de Pedro, na salinha do lanche.
- não, obrigado – respondeu o estagiário.
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Por Marco Vicente Dotto Köhler.
8.10.06
Desentendimento...
Era o telefone celular, implacável.
- alô?
- oi, querido, que saudade...
- oi, amor, como você está?
- estou bem, e você?
- um pouco exausto após escapar de oito xeques e três avanços da rainha e uma dezena de perigosos ataques das torres e bispos...
- mas você venceu?
- sim, consegui um xeque mate na terceira hora da batalha. – e continuou - bom, não é mesmo?
- ótimo, querido, muito bom, mesmo!
- onde você está agora, meu amor?
- no banheiro, querida.
- no banheiro?
- é, sabe como é... o chá...
- em que banheiro você está?
- como em que banheiro? No banheiro de casa.
- da sua casa?
- isso no...
- não! Eu estou no banheiro da tua casa!
- mas...
- mas, nada! Não venha com desculpas! Não agüento mais essas tuas partidas de xadrez, os chás, onde já se viu uma coisa dessas?
- mas, querida, é que eu...
- é que você, não! Não me faça ouvir isso!
- está bem, prometo que...
- você não promete mais nada! Acabou!
- não, não faça isso...
- não sou eu...
- mas você disse que acabou!
- acabou a bateria do telefone! Quando você voltar para casa, não esqueça do tabuleiro.
- ta bom, mais alguma coisa?
- não, era isso, um beijo. Te amo.
- também te amo, querida.
- tchau.
Silêncio. Não houve resposta alguma, a bateria acabara.
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Por Marco Vicente Dotto Köhler
30.9.06
Memória... Ilha de edição
E como não lembrar do gosto do cheiro da borracha do bico da mamadeira Hilo, recheada de leite recheado de Nescau e mel, isso tudo bem quentinho, entregue na cama bem cedinho pela mãe naquelas manhãs frias em que não se quer ir pra escola, só se pensa, sonolento, em continuar ali sonolento, “soterrado” por cobertores no aconchego da cama.
Até o dia em que chegou a independência e passei, sentindo nos ombros todo o peso da responsabilidade, a acordar de manhã e ir, sozinho, até a cozinha para tomar o Nescau matinal, em uma xícara – não mais na mamadeira, uma das primeiras independências depois que já se aprendeu a escovar os dentes e a limpar a bunda sem ajuda de ninguém... Que maravilha! Que felicidade!
Mas a memória é assim mesmo... Ah! Como era bom ser criança e sonhar. Sonhar em ser adulto, ser piloto de motocross, astronauta, advogado, médico ou jogador de futebol; namorar aquela colega da escola por quem se é apaixonado – do jardim-de-infância até a universidade; dirigir o carro; sair à noite e voltar de madrugada sem ter hora para voltar...
Ah! Memória seletiva, editada sei lá por quem, provavelmente por um eu que não conheço, mas que deve ter as suas razões de ser... Graças a ti, ilha de edição, é que se olha para trás e tudo parece melhor do que realmente foi...
A vida tem o tempo.. ou não.
O tempo engole a vida, num segundo mal pensado,
mal falado, mal agido: silêncio.
Escuridão.
Gélido corpo inerte: fim.
Por Marco Vicente Dotto Köhler
26.9.06
saudade... é o que fica.
Sapatos à mão e cabelos ao vento
Olhe só, aquele menino chegando com os sapatos nas mãos.
Olhe só, aquele menino chegando, com o cabelo ao vento, cobrindo os olhos.
Olhe só, como aquele menino, que vem chegando, está pálido.
De onde será que ele vem?
Será de muito longe?
Ou de tão perto que não podíamos mais notá-lo?
Ou será que ele vem de tantos lugares que nem podemos imaginar?
Ouça o que esse menino que chegou tem a dizer.
Ouça com atenção, parece importante o que ele tem a dizer.
Ouviram com atenção o que tinha ele a nos dizer?
Gravaram bem o que ele disse?
Viram, como era mesmo importante o que ele tinha a nos dizer?
Para onde será que vai aquele menino que vinha chegando,
Com os sapatos nas mãos e algo a nos dizer?
Será que ele vai voltar para o lugar de onde veio?
Parece ser longe do sol, não?
Ou será que ele irá para outro, mais quente e aconchegante?
Não sei. Não sabemos. Sei que ele partiu depressa,
Após nos dizer algo importante,
E não sabemos quando ou se irá voltar...
Por: Marco Vicente Dotto Köhler – 04/11/2005.
24.9.06
Novo início: poesias & poemas
Inicia-se hoje no "Coisas de Marco" a publicação de algumas/alguns de minhas/meus poesias/poemas.
Essa primeira chama-se:
Morena cigana
Não vou mentir, dizer que pensei em ti o dia todo.
Não posso negar: pensei várias vezes o dia todo.
Ainda não sinto tua falta tanto assim, mas sinto sua falta, sim.
Quero-te tanto, quero-te tão bem, assim, aqui junto de mim.
Não quero te prender, tão pouco te perder...
Não posso te prender aqui, tão pouco te deixar ir, assim, sem mais nem por quê...
Penso no que dizer pra ti. Não quero pensar, quero dizer.
Penso no que posso sentir por ti. Não quero pensar, quero sentir.
Penso no que penso de ti.
Penso no quanto penso em ti.
Não quero pensar.
Não me quero só.
Quero-te, só.
Por: Marco Vicente Dotto Köhler
19.9.06
A Revolta da Conclusão
6.9.06
É o fim do mundo!
Imagine, se conseguiria, logo eu... Resmungou ele, em um tom indefinido, entre o trágico e o sarcástico.
Havia conseguido tirar a tampa do creme dental da boca do ralo da pia. Sim, fácil, ali, em cima do “mais” (+) misterioso, por onde acontece uma breve divisão da espuma dêntalo-cremosa que se esvai pela escuridão, após sair de nossa boca, desaparecendo pelo cano abaixo do “+” que sustentou... bravamente a inocente tampa, até que fosse heroicamente resgatada.
E, realmente, desse jeito era ele castigado diariamente pela vida... Pelo destino... É o fim do mundo!
Marco Vicente Dotto Köhler – Imbituba, maio de 2006.
2.9.06
Mas, como pode?
Saíram todos satisfeitos e felizes da enorme sala de conferência.
Por favor, não se deixem enganar por esses “caras” sorridentes, afinal de contas, eles acabaram de eliminar um Planeta do sistema solar.
E, segundo fonte segura, estão com sérias intenções de eliminar mais um.
Já imaginaram o que podem fazer com meros mortais como nós? Não? Pois é melhor começarmos a nos preocupar, pois podemos acordar de manhã e, ao abrir a porta não ter mais céu e nos depararmos com a manchete no jornal: “Cientistas resolveram que o céu não existe”. Pode ser exagero, sei.
E se eles determinassem que o nome da água não é mais água, mas álcool etílico, teríamos todos cirrose?
Então, digamos que eles deixem o céu e a água do jeito que estão, mas determinem, por exemplo, que de agora em diante a Terra não é mais Terra, e sim Lua. Seríamos então todos lunáticos?
É, será que são os deuses cientistas, e não astronautas como defendera Erik Von Daniken no mundo pré Plutão-anão? Quem pode saber?
Na dúvida, é melhor ficar atento, pois, se eles entenderem que você não existe, ou que você não é você, isso pode não ser muito bom. Principalmente para você.
29.8.06
O mundo não é mais o mesmo.
26.8.06
Lembranças de minha infância querida...
Lembro de quando não entendia por quê a nota vermelha era sempre preta, e, de vermelho, nada tinha.
Lembro de quando o cheque furado estava inteiro, o borrachudo não esticava e o voador não voava. Que decepção.
Lembro de quando a conta do banco estourava, mas quando lá chegava, estava tudo inteiro, sem fumaça nem destroços... Oh! Mistérios!
Lembro da rua sem fim, que para mim era a única que terminava.
Lembro de quando eu era o Romário, o Bebeto, Dunga ou Taffarel, jogando bola descalço num campo de terra.
Lembro de quando dormia; de quando acordava; de quando o dia era longo, de quando o natal nunca chegava... Ah! Entenda-se Einstein!
Lembro de quando rezava à noite deitado na cama, e Deus só me ouviria se eu estivesse com os olhos pro teto, pois se estivesse de bruços, quem me ouviria seria o diabo... Quanto formalismo!
Lembro de quando não gostava de dormir com as meias nos pés pois lembrava de uma música em que o cantor iria dormir de meias pra virar burguês. Lembro que nunca entendi isso direito.
Lembro de quando queria ser mais velho para largar a bicicleta, dirigir carro e ir para as festas. Agora só queria economizar gasolina, imposto e seguro, subir na bicicleta e pedalar o dia todo, sem ter hora para sair nem para chegar!
Lembro de quando, para mim, não havia economia nem inflação, só tinha mickey, pateta e bicicleta, bola e na televisão não tinha edição nacional nem linha direta.
Lembro do que eu lembrava que não queria esquecer, e já não sei mais o que é.
Lembro do que quero lembrar do que lembro do ontem que agora é mais ontem, do amanhã que será hoje, será passado. Ou nunca será.
17.8.06
Conto - II
Viu-a, pela primeira vez em frente a uma estante em um corredor de uma livraria.
Ele, procurando, ansiosamente por um determinado livro, que há muito desejava.
Ela, tranqüilamente, de pé, lia na contra-capa de um livro de cor branca a sinopse do que continham aquelas páginas.
Sem dar muita importância àquela moça, foi embora sem ter encontrado o desejado livro.
Observou-a desde o momento que adentrava no estabelecimento. Acompanhou seus movimentos, a difícil escolha entre o pão-de-queijo e a massa folhada de frango e catupiry. Decidiu-se e, num movimento certeiro, pegou o sanduíche natural. Dois passos à frente, à direita, estavam as bebidas aguardando a escolha. Esta foi fácil: foi direto ao natural suco de laranja extraído de uma máquina transparente.
*
Enquanto aguardava o troco, ela ajeitou os cabelos, conferindo o resultado vendo-se em um vidro que continha o nome da cafeteria em letras imitando a grafia humana e um desenho de uma xícara, feitos a jato de areia, preso à parede, atrás da balconista, que lhe alcançava o troco, colocado na bolsa sem ser conferido.
*
Já sentada, distraída, à mesa com lugar para quatro pessoas, que poderiam dispor-se em dois pares, um frente ao outro. Mas ela estava sozinha.
A cafeína já estava no sistema nervoso central quando ele teve um insight, um estalo, uma visão, e pensou, balbuciando até: Claro! É o destino! Só pode ser!
*
- Foi o destino! Sempre soube que esse momento iria chegar... só pode ser isso!
- Mas... – tentou indagar ela, sem que ele a deixasse terminar o que mal começara a dizer. Ele acrescentou:
- Era como eu imaginava que seria. Você, eu... os sinais... as coincidências... o universo conspirando a favor, nos unindo... Não... Na verdade acho que não!
- Mas... – Tentou ela mais uma vez.
- Não, moça, nem precisa dizer. Já sei. Pra ser sincero também desconfiei... Ah! Tinha razão aquele pinguinho de dúvida... Não poderia ser! Desculpe o inconveniente, tenha um bom dia, e aproveite o sanduíche... Se houver apetite, experimente o pastel de queijo, está muito bom, mesmo.
- Mas...
Antes que ela conseguisse dizer, ele já havia saído, rapidamente por entre as mesas, chegando à porta, depois à rua e misturando-se entre outros transeuntes solitários e seus destinos tortos.
- Mas... – Pensou ela, sem conseguir concluir o que pensava...
11.8.06
Evolução do balcão
25.7.06
Conto...
Havia percorrido pouco mais de uma quadra quando passou por ele um táxi. Nada demais não fossem as cores do carro – preto com teto verde-água e letras em branco – estranhas às cores dos táxis de sua cidade. Parecia até ser de outro país. não deu muita importância a isso. Continuou caminhando.
Um pouco à frente viu um senhor lendo um jornal na varanda de uma casa, que parecia ser dele. Era um jornal que o garoto não conhecia, viu a manchete mas não conseguiu entender o que leu, pois era escrito em um idioma estrangeiro, incompreensível para ele. Estranhou um pouco, franzindo a testa, pensativo. Manteve o rumo de casa.
Já na quadra seguinte, encontrou um grupo de pessoas que seguiam em direção oposta à dele conversando em voz alta, quase aos gritos, e rindo. Mas não estavam falando a língua do país do garoto e por isso ele não entendeu nada, mas imaginou que fosse o mesmo idioma do jornal que vira aquele senhor lendo um pouco antes.
Um pouco confuso, voltou à casa de sua namorada, apertou o botão do interfone, aguardou resposta. Alguns instantes depois ouviu uma voz e reconheceu-a imediatamente. Era a sua namorada. Mas não foi possível entender o que ela dizia pois parecia estar falando o mesmo idioma daquele grupo que havia encontrado há pouco.
Perplexo, e sem dizer uma palavra em resposta à voz que ouviu pelo interfone, deu meia-volta e retomou o caminho de casa.
Seguiu pelas mesmas ruas que havia passado antes, mas desta vez sem ver ninguém, nem o sr. do jornal ou mesmo outro táxi.
Poucos minutos depois estava chegando em casa. Os cachorros o receberam com festa, mas ele não entendeu o que queriam dizer com aqueles latidos. Nunca antes havia entendido.
Entrou em casa, ligou algumas luzes, abriu uma garrafa térmica, que continha o café que havia preparado há algumas horas, encheu uma xícara, foi até a sala e sentou-se à frente da TV. Com o controle remoto do aparelho na mão e a xícara na outra, hesitava entre ligar a TV ou levar à boca a xícara.
Pensou e, com medo de na TV também estarem todos falando aquele estranho idioma, decidiu não ligá-la, deixou a xícara na mesinha, ao lado, e foi dormir.
Talvez de manhã, quando acordasse, tudo já teria voltado ao normal e assim ele poderia novamente entender alguma coisa.
Marco Vicente Dotto Köhler – todos os direitos reservados.
17.7.06
Aprenda inglês com Jackie Chan
15.7.06
Mentes Poluídas
Foi declarado, pela Presidente, em 09 de julho de 2006, no blog Universo Bizarro, fundada a Associação Mentes Poluídas do Amanhã. O objetivo dessa associação é associar o inassociável para alguns e o facilmente associável para os mentes poluídas do amanhã, desconfundir o confundível e desobviar o óbvio. Nós somos o futuro pensante da poluição mental.
Diretoria:
Presidente: JKishin
Vice-presidente: Mafass
1° secretário: Marco
Regras:
Esta é uma associação aberta. Qualquer pessoa pode se tornar um associado. As reuniões serão publicadas aqui no UniB e os textos, poderão ser publicados aqui ou linkados dos blogs associados. Aos associados é permitido escrever textos que desmistifiquem a poluição mental, que mostre as origens, o âmago das mentes poluídas. Torne-se um associado deixando seu nome e blog nos comentários.
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Abaixo está o segundo texto da AMPA:
14.7.06
O Mal do Século
11.7.06
Não sou somente um.
Teoria.
Existem tantos “eu” quanto são as pessoas que me conhecem. Existem tantos “Planeta Terra” quantos são seus habitantes.
Difícil entender?
Explico. As pessoas e o mundo são como se fossem um livro: contém uma história, mas cada pessoa que lê imagina seus personagens, as descrições de uma forma diferente. Vê de uma forma diferente, mesmo sendo uma história apenas.
Cada pessoa que me conhece tem uma visão de mim. Com certeza há percepções parecidas, quase iguais, mas não haverá duas percepções exatamente iguais. Portanto, sou um para minha namorada, outro para minha avó, outro para meu pai, outro para mim mesmo, assim por diante.
Da mesma forma vejo o mundo da minha maneira, assim como cada pessoa o vê à sua.
Não há, também, percepções idênticas quanto à visão de mundo, sendo que, assim, existem tantos mundos quanto são as percepções dele.
10.7.06
Exceção da exceção
resposta: ela própria.
motivo: se ela diz que toda regra tem exceção, mas ela própria não admite exceção, então ela é uma exceção dela mesma. Simples.