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27.11.12

Sombras Desleais


Odeio o entardecer
Porque sinto que o dia se esvaiu;
Perdeu-se em meio a planos e sonhos
Que não se realizarão.

O amanhecer me desespera,
Por mostrar um horizonte
Em que não chegarei.
Não como sempre sonhei.

Chegamos tão perto
E agora já não nos olhamos.
Olhares que se imantavam,
Perderam seu poder de atração.

Tudo ficou tão frio de repente.
Mas já não queremos aquecer
Os mesmos cobertores que
Outrora fizemos de casulo.

Não odeio o entardecer
Apenas o vazio que se esconde
Em suas sombras desleais.
Vazio escuro que tento entender.

O amanhecer já não me desespera,
Traz consigo a esperança de aquecer
Todo o frio e iluminar e preencher
Toda escuridão e vazio que há em mim.

____
Por Marco Vicente Dotto Köhler, em um dia qualquer... 

21.11.12

Acabou


As harmonias e melodias
Já foram todas compostas.
Os vãos de versos
De todos os tempos
Já foram preenchidos.

Heróis e ídolos todos
Foram deixados para trás.
Todas as belezas já foram apagadas.

Até a claridade perdeu
A beleza de clarear.
Não mais trás a luz,
Mostra as trevas
Das sombras, agora reveladas.

Não há mais o que ser feito,
Nem sombras onde se esconder.

Ande sob o sol.
Ande em círculos
Na busca pelo oásis,
Da sua miragem distorcida.

Beba sua água de areia,
Contemple tudo o que há!
Não há nada mais a ser feito.

___
Por Marco Vicente Dotto Köhler, dois mil e...

Lendas


Vou gritar mais alto o que penso.
Ignorar dúvidas,
Escolher um caminho.
Tirar uma carta do baralho.
Esquecer poções, princesas e heróis.

Brindar à sombra eterna,
Que há de nos engolir sem piedade.
Contemplar o céu em chamas,
Ao entardecer nebuloso de nossa existência!

____
Por Marco Vicente Dotto Köhler, neste século. 

20.11.12

Sem fim...


te espero até tarde da noite,
até descobrir que você não irá ligar;
te espero por toda a vida,
para, quando finalmente encontrar,
perceber que você não virá!

olho para o espaço reservado para você no meu coração,
e ele continua vago;
percebo que você não quer estar aqui.

outra manhã se desenha e te espero até o anoitecer,
para perceber que você não estará aqui, nem aí,
nem em lugar nenhum;

te procuro em todos os lugares,
sabendo que não vou te encontrar,
mas a busca é tudo que tenho,
e não tenho nada sem você aqui;

já deveria ter aprendido há tempos que seria assim;
no fundo sempre soube qual seria o fim.
mesmo assim não canso de tentar encontrar
em algum lugar algum você que queira estar aqui...
_______
Por Marco Vicente Dotto Köhler, em...

12.11.12

O dia que a Terra girou.


Quando criança, não lembro ao certo a idade, talvez aos cinco ou seis, quando me foi ensinado que a Terra gira em torno do sol e também em torno de si mesma, fiquei absolutamente empolgado com aquelas informações. Achei fantástico.
Mas, de outro lado, aquilo criou em mim um desejo absurdo de conseguir ver a Terra girar. Estava decidido: eu conseguiria fazer aquilo. Iria ver a Terra se movendo.
Todos me disseram que não dava, porque estávamos na Terra e não seria possível ver tal giro. Mas ignorei tais comentários e comecei a tentar, por incontáveis vezes. Não sei quanto tempo tentei.
Um dia, num final de semana em que eu estava na casa do meu pai, sentei na grama ao lado da janela do quarto dele, onde ele dormia após o almoço, e fiquei concentrado nas montanhas no outro lado do Rio Uruguai.
Eu ia ver a Terra girar, e ponto final. Fiquei lá sentado, concentrado... até que.... nossa! Eu vi! Senhores, eu vi a Terra girar. Foi uma sensação indescritível. Senti-me um ser humano especial, dotado da capacidade de ver e sentir a Terra girar! Fiquei absolutamente extasiado.  E comecei a gritar por meu pai, pois queria que ele soubesse que eu tinha conseguido.
 - Pai! Pai! Paaai!!  - eu gritava ao lado da janela, sem mover os olhos das montanhas.
 Meu pai abriu a janela, com o humor característico de quem é acordado da sesta e perguntou o que tinha acontecido. Pedi que viesse para fora, para ver o que eu estava vendo. Era uma visão impressionante.
Ele veio, sentou ao meu lado e perguntou
 - o que tu está vendo, filho?
- pai, tu não vê? Eu consegui!
- conseguiu o quê?
- estou vendo a Terra girar, pai! Olha lá na ponta daquela montanha, que o pai vai ver também!
Nesse momento, meu pai, olhando para onde eu tinha dito, passou a mão da minha cabeça e falou:
- filho, não quero te desanimar, mas o que tu está vendo não é a Terra girar, mas as nuvens passando acima da montanha...
Eu não respondi. Fiquei quieto, pensando que não era um ser humano tão especial quanto pensava, que não tinha o super poder de ver e sentir a rotação da Terra.
Mas, foi bom assim. Melhor cortar pela raiz esse tipo de pensamento. Já pensou se meu pai tivesse deixado que eu acreditasse que era uma espécie de super-homem?

Por Marco Vicente Dotto Köhler, novembro de 2012