Quando
criança, não lembro ao certo a idade, talvez aos cinco ou seis, quando me foi
ensinado que a Terra gira em torno do sol e também em torno de si mesma, fiquei
absolutamente empolgado com aquelas informações. Achei fantástico.
Mas, de outro
lado, aquilo criou em mim um desejo absurdo de conseguir ver a Terra girar.
Estava decidido: eu conseguiria fazer aquilo. Iria ver a Terra se movendo.
Todos me
disseram que não dava, porque estávamos na Terra e não seria possível ver tal
giro. Mas ignorei tais comentários e comecei a tentar, por incontáveis vezes. Não
sei quanto tempo tentei.
Um dia, num
final de semana em que eu estava na casa do meu pai, sentei na grama ao lado da
janela do quarto dele, onde ele dormia após o almoço, e fiquei concentrado nas
montanhas no outro lado do Rio Uruguai.
Eu ia ver a
Terra girar, e ponto final. Fiquei lá sentado, concentrado... até que....
nossa! Eu vi! Senhores, eu vi a Terra girar. Foi uma sensação indescritível. Senti-me
um ser humano especial, dotado da capacidade de ver e sentir a Terra girar! Fiquei
absolutamente extasiado. E comecei a
gritar por meu pai, pois queria que ele soubesse que eu tinha conseguido.
- Pai! Pai! Paaai!! - eu gritava ao lado da janela, sem mover os
olhos das montanhas.
Meu pai abriu a janela, com o humor
característico de quem é acordado da sesta e perguntou o que tinha acontecido. Pedi
que viesse para fora, para ver o que eu estava vendo. Era uma visão
impressionante.
Ele veio,
sentou ao meu lado e perguntou
- o que tu está vendo, filho?
- pai, tu não
vê? Eu consegui!
- conseguiu o
quê?
- estou vendo
a Terra girar, pai! Olha lá na ponta daquela montanha, que o pai vai ver
também!
Nesse momento,
meu pai, olhando para onde eu tinha dito, passou a mão da minha cabeça e falou:
- filho, não
quero te desanimar, mas o que tu está vendo não é a Terra girar, mas as nuvens
passando acima da montanha...
Eu não
respondi. Fiquei quieto, pensando que não era um ser humano tão especial quanto
pensava, que não tinha o super poder de ver e sentir a rotação da Terra.
Mas, foi bom
assim. Melhor cortar pela raiz esse tipo de pensamento. Já pensou se meu pai
tivesse deixado que eu acreditasse que era uma espécie de super-homem?
Por Marco
Vicente Dotto Köhler, novembro de 2012