RAZÃO DE SER: Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê? (Paulo Leminski)
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11.10.11
Escritos de caderno
10.9.11
Atualizações para um defunto amigo
7.9.11
Prorrogador de prazeres.
17.8.11
Sinapses emocionantes...
13.8.11
Quando Fomos Heróis!
A época do ano era convidativa para aventuras, sonhos e desafios. Fim de ano, família reunida... tios, tias e avós, todos naquela alegria de quase fim do ano, de quase novo ano... eram almoços com muita conversa da família de descendentes de italianos, melancia no meio da tarde, à sombra da frondosa árvore no quintal da casa dos meus avós.
Mas o que importava mesmo eram os primos que vinham passear uma vez por ano, quando curtíamos a valer nossa infância, jogando futebol, andando de bicicleta ou fazendo guerra de polícia contra bandido, na marcenaria do meu avô, que ficava junto a casa, onde pequenos cubos de madeira magicamente se transformavam em granadas, onde três pedaços de madeira, encaixados, quando eram do tipo que se faz paredes, ou pregadas, mais alguns pregos extras e simplesmente sofriam mutações e viravam revólveres, espingardas ou metralhadoras, com gatilho e mira feita com pequenos pregos.
A brincadeira consistia em nos dividirmos em duas equipes, uma de bandidos, outra de policiais, e um grupo deveria ficar dentro da marcenaria e protegê-la da invasão contrária. Era demais! Simplesmente incrível.
Primeiro Ato – O Heroísmo
Talvez essa vocação de policial nos fez tentar algo de heróico em uma daquelas tardes ensolaradas de dezembro, em Itapiranga, aquela cidade cercada por morros e à beira do Rio Uruguai, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul e com a Argentina, onde fazia um calor infernal.
Mas não nos importávamos. Embarcávamos em nossas naves movidas a pedais, com duas rodas aro 20 , que os mortais de visão estreita chamavam simplesmente de bicicleta!
Andávamos pela cidade, normalmente pela Avenida Uruguai, à beira Rio, quase sempre em grupos de em três, quatro, cinco...
Em um desses passeios, aconteceu algo inédito, que nos encheu de adrenalina: dois cidadãos largaram discretamente um saco na beira da calçada, em um lugar entre árvores e com capim relativamente alto, olharam em volta e seguiram adiante.
Nós, á distância, achamos curiosa a cena e a atitude dos dois, e paramos para conferir o que eles haviam largado lá.
Para nosso espanto, era um saco plástico contendo um pó branco, um tanto amarelado. Deixamos o saco ali, e seguimos adiante, fomos até o final da avenida, a uns dois quilômetros dali, e retornamos, pegamos aquela sacola e fomos para o quartel general: a marcenaria do meu avô, onde as indagações começaram de verdade.
O que seria? Cocaína? Heroína? Farinha de trigo? De quem era? Por que havia sido largada lá? Seria uma entrega mal planejada? Para quem seria? O que deveríamos fazer? Voltar lá e deixar onde estava? Não, isso não mais era possível, poderíamos ser descobertos, afinal, o local deveria ter sido previamente combinado com o suposto comprador... e ele poderia chegar lá no momento em que devolveríamos, o que seria nosso fim!
Segundo Ato – O Reconhecimento
Estávamos encrencados! Contaríamos a nossos pais? Certamente, não. Afinal, éramos os heróis, naquele dia.
Imaginávamos recebendo medalhas de honra por ter evitado que drogas chegassem às ruas, e quem sabe conseguiríamos desmantelar uma quadrilha de traficantes!
Depois de muito pensar, decidimos abrir o saco e tentar descobrir o que era. Abrimos com cuidado. O cheiro era forte, mas não nos era familiar. Farinha, com certeza não era. Como não conhecíamos muito além de farinha de trigo e de milho, maisena e polvilho, poderia mesmo ser realmente algo importante que encontramos lá.
Feita a análise, por nós, cinco garotos com experiência de vida entre 7 e 9 anos... de idade, decidimos ir à delegacia e entregar o produto do crime ao delegado, que, em nossa imaginação, nos parabenizaria pelo ato heróico, chamaria a rádio e o jornal local, o prefeito, o promotor de justiça, juiz e quem mais fosse para a cerimônia de honraria aos heróis mirins de Itapiranga.
Chegando lá, os cinco heróis, Darlan, Daniel e Kéu, meus primos, e Dengo, meu amigo e vizinho da minha avó, mais eu, (esse era o grupo, se minha memória não estiver me traindo, novamente) fomos logo perguntando pelo Delegado de Polícia, com a euforia característica de um herói em seu primeiro ato.
Questionados a respeito do motivo de estarmos ali, erguemos o tal saco de pó desconhecido, em uma atitude quase de quem levanta um troféu. Um troféu pequeno, talvez meio quilo ou um pouco mais.
O policial que nos atendeu perguntou o que era aquilo, e contamos a história a ele, um interrompendo o outro, com a felicidade de quem está ajudando a humanidade a salvar-se da maldade.
Um tanto incrédulo (para não dizer completamente), o policial chamou o Delegado, que nos questionou sobre os detalhes de como conseguimos aquele saco com aquele pó, e sobre como eram os dois supostos traficantes que teriam largado a “encomenda” no “ponto de entrega”.
Nos acalmou, dizendo que poderíamos ficar tranquilos, que apesar de ter perguntado e anotado nossos nomes e os nomes dos nossos pais, não estávamos correndo qualquer risco. Seria uma investigação sigilosa! Essa palavra acendeu novamente nossa honra de heróis!
Saímos dali com a sensação de dever cumprido.
Terceiro Ato – A Descoberta
À noite, quando minha mãe, chegou em casa, já sabia do ocorrido. O Delegado avisou nossos pais, o que não era nada bom, pois levei um sermão interminável sobre os riscos de se fazer o que fizemos. Ouvi, impassível, ainda orgulhoso do que tínhamos feito, argumentando que poderíamos estar ajudando a polícia a prender bandidos, o que era compreendido por ela em termos de “se meter em encrencas”.
No dia seguinte, ficamos proibidos de sair de bicicleta. Era nossa recompensa pelo ato heróico. Ficamos em casa, imaginando ainda os frutos que poderíamos colher da atitude mal compreendida, afinal, todo herói é posto em dúvida em algum momento.
Dias depois, minha mãe deu a notícia que tanto aguardávamos: o que tinha naquele saco?
- era enxofre, meu filho! - disse ela, com um ar de tranquilidade que até pouco tempo não compreendia.
Então, foi isso. Salvamos a humanidade do terrível mal destruidor de um saco plástico com enxofre!
Mas, apesar do revés, ninguém pode tirar de nós aquele sentimento de dever cumprido, nem duvidar de que, naquele dia, fomos heróis!
Por Marco Vicente Dotto Köhler.
29.7.11
Complicar o simples
Por Marco Vicente Dotto Köhler, julho 2011
27.7.11
Meus Super Poderes
Quando criança, queria acreditar que possuía super poderes.
Isso foi aos oito, dez anos de idade, não tenho certeza. Creio que seja uma fantasia normal da e na infância.
Quais eram os tais super poderes, na verdade, não lembro direito. Traído por minha nada super poderosa memória.
Lembro bem o modo como meus poderes eram recarregados. Sim! Eram tão super power que era necessário recarregar. Só não sei como eu percebia o momento em que havia se esgotado tais forças, como percebia que precisava de recarga.
A fonte de energia dos super poderes era a luz. Pois é! Eram recarregados pelos olhos.
Mas, calma! Nunca precisei encostar a retina em uma lâmpada ou vela. Já era por wireless ou coisa que o valha. Bastavaolhar fixamente, concentrando o pensamento na recarga, e pronto!
O Sol era poderoso. Pouco mais de um segundo, e estava 100%! Provavelmente por nãoaguentar olhar fixamente para o Astro por mais tempo que isso.
O espelho noturno do Sol, nem tanto, era lento na recarga.
Na missa, minha fonte preferida de iluminação não era o evangelho ou a luz que pendia do teto, mas aquela luzinha de simulacro de vela, que ficava ao fundo, atrás do altar. Não sei bem o motivo, mas gostava de recarregar através dela.
Ou, quando havia algum casamento ou coisa assim, os spots de iluminação das filmagens, também poderosos.
Flashes de câmeras fotográficas também serviam, mas era pouco tempo de luz e a recarga era quase nula.
Será que, anos depois, quando em alguns momentos imaginava um raio laser saindo da ponta dos meus pés, com os quais eu supostamente acertava o que estava mirando, era a luz acumulada das recargas saindo?
Sei que é sorte minha meus olhos nunca terem fritado ao Sol, por olhar várias vezes por dia para ele, para recarregar as tais forças.
Ou será que foram meus supostos super poderes que os protegeram?
_______
Por Marco Vicente Dotto Köhler, julho 2011.
19.7.11
Injustiça no futebol
Não aguento mais ouvir que o resultado do jogo do Brasil e Paraguai foi injusto, tendo como argumento o fato de a seleção canarinho ter jogado melhor, dominado o jogo e não ter vencido, possibilitando a decisão nas penalidades.
Se, por exemplo, um time passa noventa minutos dominando o jogo, pressionando, não deixando o time adversário jogar, e, em uma única falha, leva um gol e sai derrotado, foi injusta a derrota?
Por Marco Vicente Dotto Köhler, 2011
15.7.11
Medo (angústia)
Há tempos quero falar sobre alguns medos que sinto e não sei se são comuns. Sim, tem os medos comuns, como de aranhas e cobras, por exemplo.
Mas o medo do qual quero falar é outro, de outro tipo, de outra origem.
No sentido sartreano, talvez não seja medo, mas angústia.
Essa angústia é a seguinte: sempre que visto uma cueca mais velha, ou uma meiajá detonada, fico torcendo para não morrer nesse dia.
Já imaginaram, na mesa de autópsia, o corpo estendido e as enfermeiras e médico legista olhando aquela figura sem vida, com uma cueca toda ferrada, e uma meia arregaçada (ou até meias de pares diferentes)?
Por outro lado, se for nessa situação, em uma mesa de autópsia, minha angústia é como vergonha alheia, pois já estarei morto, e quem vai sentir vergonha será quem for reconhecer meu corpo no IML.
Pior seria não morrer, mas acordar no hospital, depois de algum procedimento qualquer, apenas com aquela roupa típica de hospital. E a cueca velha, ou as meias com furos na ponta....
Outra angústia que me aflige é estar em uma das situações acima e estar com chulé.
Mas a que mais me atormenta, mesmo, é a cueca. Morrer, por si só, já é algo de espetacular, pois não se sabe o que vem depois - especula-se, e só! - mas morrer com cuecas velhas, ou meias arregaçadas, isso sim é assustador!
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Por Marco Vicente Dotto Köhler - julho 2011
8.5.11
Colateral
que vem do centro,
o âmago de tudo!
De tudo que sou,
de tudo que é você para mim,
que nada sou sem você!
Não passa, não passará!
Camuflagens frustradas
do que não se pode esconder!
Mais do que sinto por você,
me escondo de você,
pedra fundamental de minha existência!
Frágel e trôpega passagem
por esta vida, que outra coisa não é
Senão apenas existir,
sem você!
_____
Por Marco Vicente Dotto Köhler...
28.4.11
tudo e nada
Vejo teus olhos em outros olhos...
Teu sorriso em outras faces
Teus beijos....
Em lugar algum,
Pois nunca os tive!
_____
Por Marco Vicente Dotto Köhler, 2010
25.4.11
Dazed and Confused!
Se você pudesse ver nos meus olhos
A sinceridade triste que sinto,
De querer e não poder,
De poder e não saber...
A divisão que se apresenta,
Logo ali, bem à frente.
Escolhas que não se pode fazer
Feições que não se pode esquecer.
Tudo em turbilhão ao seu redor.
Claro e confuso como se afogar
Em águas límpidas... e as respostas
Naufragadas num mar de dúvidas...
_____
7.4.11
Segundos eternos
Me apaixonaria por você em dois segundos...
Dois segundos já passaram
Agora já foi, não tem volta!
Seja o que for, dois segundos
Já valeram uma vida toda!
Toda sua, se você deixar!
Toda nossa, se eu pudesse escolher!
_______
Por Marco Vicente Dotto Köher, em algum momento deste milênio
5.4.11
Olhar
Sim, agora eu vejo!
Me apaixono pelos olhos,
Pelos olhares e sorrisos!
Mas amo de verdade
Quando estão em você!
______
Por Marco Vicente Dotto Köhler, abril 2011
30.3.11
O Riso das Rugas
Pois é! Essa reprodução de diálogo é fato! Aconteceu ontem. Ainda não consigo não rir ao lembrar. Assim, vou rindo e me enrugando! Mas pelo menos são rugas risonhas, das quais eu rio na maior alegria!!
27.2.11
10.2.11
Silêncio
Silêncio... e só.
Vozes, pensamentos...
Nada!
Silêncio, e só!
Escuridão? Talvez...
Silêncio...
1.2.11
Senhor Madruga e o eterno aluguel
Não só uma mentira, mas a maior mentira que já vi na TV.
Ele paga todos os meses, religiosamente.
Está sempre devendo os eternos catorze meses
de aluguel, portanto, paga todos os meses, em dia.
Do contrário, já estaria devendo pelo menos
uns setenta e dois meses.
O que aconteceu, provavelmente, é que atrasou alguns,
pagou outros, atrasou de novo, até chegar até os catorze.
Depois, conseguiu pagar sempre em dia, mas não
conseguiu pagar aqueles eternos atrasados.
A não ser que, em uma teoria mais metafíscia, estejam
todos da Vila presos no tempo, e ficam vivendo sempre no
mesmo mês.
_____
Por Marco Vicente Dotto Köhler, 2011
24.1.11
Pipas e sonhos...
22.1.11
O texto abaixo, apesar de modificado para o blog, é parte de um livro que há algum tempo estou escrevendo, o qual surgiu inspirado em uma história, mas que está sendo sobre várias... parte considerável é autobiográfica, parte apenas verossímil com vivências e resquícios de lembranças e impressões do que vivi. O restante, só literatura...
CAPÍTULO I
Então é isso, pensou Artur, coberto por um pala de lã de carneiro já surrado pelo tempo, sentado na antiga cadeira de balanço, que antes já fora uma bela e vigorosa árvore de jacarandá, como aquela no pátio gramado em frente a varanda da casa, onde estava a observar os raios do sol a derreter o orvalho naquele úmido e ensolarado alvorecer de outono.
Pegou a garrafa térmica que estava no chão, derramou a água quente na cuia, observando o revolver e sentindo o cheiro da erva-mate.
Quase como se fosse um ritual, ajeitou, cuidadosamente, a cuia em suas mãos de pele fina e enrugada, mexeu na bomba e começou a sorver.
Sorveu não só a água do chimarrão, que agora lhe aquecia o corpo, mas também lembranças dos áureos tempos, o que lhe aquecia a alma e o coração.
Então é isso, resmungou ele para si mesmo, entre um gole e outro, como se tivesse descoberto, lá no fundo de sua mente, algo valiosíssimo.
Deparou-se, de repente, com Diego, seu primo, amigo e irmão, a lhe contar peripécias inimagináveis. Mas sabia que eram lembranças, e que era o tempo a lhe pregar uma peça.
*
A lembrança de Diego sentou-se ao seu lado e ficou a olhá-lo, parecendo saber exatamente o que estava ele a pensar – e sentir – em suas lembranças. Ou apenas, quem sabe, esperando que lhe fosse oferecida uma cuia de mate, bem quente, como gostava...
De tão viva, quase palpável parecia ser aquela lembrança ali ao seu lado, com seus cabelos dourados compridos, como quando da última vez que o vira.
Após alguns instantes de lembranças nostálgicas, em que pensou pela milionésima vez no que poderia ter feito e não fez em algumas situações que determinariam o rumo de sua vida, principalmente sua vida amorosa, se viu pensando alto, como se Diego estivesse de fato ao seu lado:
- pois é, Diego, a vida é assim mesmo. Deixa-se para depois, e quando se percebe, o depois já é passado, e no passado não se faz mais nada, não se mexe. Aí, corre-se o risco de esse nada, um vazio, ser a parte maior de nossa vida.
Novamente, seu amigo nada lhe disse. Apenas sorriu, levantou-se e saiu calmamente, descendo os degraus da varanda e atravessando o gramado, sem acenar nem olhar para trás. Apenas se foi. Mas Artur sabia que hora ou outra ele voltaria para lhe fazer companhia, mesmo que apenas por alguns minutos, que eram minutos de uma felicidade um tanto distorcida, borrada, mas, ainda assim, de felicidade.
Sim, de felicidade, talvez pelo fato de Artur saber que Diego de fato não estivera ali, que era apenas uma lembrança, talvez um espectro ou uma projeção sua, pois há praticamente meio século aqueles cabelos dourados haviam sido deixados sete palmos abaixo da terra, em uma triste cerimônia de despedida em um cemitério repleto de jovens, amigos, colegas e familiares, desesperadamente tristes e desolados por terem que se despedir de forma tão abrupta daquele amigo tão querido, daquele que mesmo em situações difíceis sempre sorria e levava ânimo a todos com um brilho estranhamente esperançoso no olhar.
Olhar que se esvaiu, que se perdeu no infinito das possibilidades, agora póstumas e inalcançáveis para aquele olhar, deixando muita saudade.
Mas as inúmeras, as incontáveis boas lembranças serviam de consolo sempre que a saudade beirava o insuportável, como se mesmo distante, Diego continuasse se dedicando a sorrir e trazer ânimo, alegria e força para que se continuasse em frente, mesmo que a cada dia ele ficasse mais distante, e ainda assim, tão próximo...
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por Marco Vicente Dotto Kohler, em...