Queimei poesias, rasguei sonhos.
Não tenho mais planos,
Esqueci o que é rumo.
Há sombras, há noite, deserta.
Vozes ressoam planos passados
Ao reencontro futuro, que não mais haverá.
_____________
Por Marco Vicente Dotto Köhler
RAZÃO DE SER: Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê? (Paulo Leminski)
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25.10.06
14.10.06
O lanche do estagiário
Estava o estagiário Pedro em uma pequena sala do escritório, reservada para que fossem ali guardados os objetos pessoais e também era ali o local do lanche.
Acabara de abrir um pacote de bolachas salgadas, dessas que vêm em três fatias emendadas, com picotes para facilitar o desmembramento das partes de cada fatia. Havia comido duas.
Para acompanhar, tomava café-com-leite, que completava com café-preto para ficar mais forte.
Nesse dia o seu chefe,Emanuel Francisco, estava mais sério do que costumava ser. Tinham eles uma boa relação,se davam bem.
Chico, como chamavam o chefe, era uma pessoa tranqüila, sem estresse, mas estava sério e compenetrado naquele dia por ter um trabalho urgente para terminar e não havia mais prazo: era para dali a algumas horas.
Pedro, sabendo disso, pensou em reduzir um pouco a tensão do seu chefe – “o ‘patrão’ é gente boa”, sempre dizia o próprio estagiário -, e resolveu levar para ele alguns biscoitos salgados, daqueles que estava lanchando.
Entrou na sala, sem bater à porta para não atrapalhar e porque Chico o dispensara há tempos de tal formalidade. Fechou a porta com igual cuidado. Andou dois passos, virou-se e parou em frente à mesa deste, à direita da porta de onde viera.
O chefe o viu, mas de tão atarefado não desviou o olhar do monitor do computador, dizendo apenas um amigável e apressado “oi”.’
Pegou, então, o estagiário, duas das crocantes bolachas, colocou-as na boca, mastigou um pouco, apenas para quebra-las e disse, demoradamente, de frente para o chefe, em alto em bom tom: “FFFffaroffFFFAA!”
A mesa, algumas folhas de anotações e documentos que estavam em cima, o teclado, bem como parte dos cabelos, das mãos e do alinhado terno do chefe ficaram cheios de farelo de bolacha, saídos diretamente da boca do estagiário.
Emanuel Francisco, sem entender o que se passara, olhou para Pedro, que estava com um semblante tranqüilo, quase sorrindo, e disse, sem raiva: “o que é isso? tu é louco?”. O chefe não parecia odioso, nem nada assim, estava estarrecido,apenas, sem compreender o que havia acontecido.
O estagiário, então...
- mais café?
- o quê?
- mais café? – perguntou a secretária, que estava ao lado de Pedro, na salinha do lanche.
- não, obrigado – respondeu o estagiário.
____
Por Marco Vicente Dotto Köhler.
Acabara de abrir um pacote de bolachas salgadas, dessas que vêm em três fatias emendadas, com picotes para facilitar o desmembramento das partes de cada fatia. Havia comido duas.
Para acompanhar, tomava café-com-leite, que completava com café-preto para ficar mais forte.
Nesse dia o seu chefe,Emanuel Francisco, estava mais sério do que costumava ser. Tinham eles uma boa relação,se davam bem.
Chico, como chamavam o chefe, era uma pessoa tranqüila, sem estresse, mas estava sério e compenetrado naquele dia por ter um trabalho urgente para terminar e não havia mais prazo: era para dali a algumas horas.
Pedro, sabendo disso, pensou em reduzir um pouco a tensão do seu chefe – “o ‘patrão’ é gente boa”, sempre dizia o próprio estagiário -, e resolveu levar para ele alguns biscoitos salgados, daqueles que estava lanchando.
Entrou na sala, sem bater à porta para não atrapalhar e porque Chico o dispensara há tempos de tal formalidade. Fechou a porta com igual cuidado. Andou dois passos, virou-se e parou em frente à mesa deste, à direita da porta de onde viera.
O chefe o viu, mas de tão atarefado não desviou o olhar do monitor do computador, dizendo apenas um amigável e apressado “oi”.’
Pegou, então, o estagiário, duas das crocantes bolachas, colocou-as na boca, mastigou um pouco, apenas para quebra-las e disse, demoradamente, de frente para o chefe, em alto em bom tom: “FFFffaroffFFFAA!”
A mesa, algumas folhas de anotações e documentos que estavam em cima, o teclado, bem como parte dos cabelos, das mãos e do alinhado terno do chefe ficaram cheios de farelo de bolacha, saídos diretamente da boca do estagiário.
Emanuel Francisco, sem entender o que se passara, olhou para Pedro, que estava com um semblante tranqüilo, quase sorrindo, e disse, sem raiva: “o que é isso? tu é louco?”. O chefe não parecia odioso, nem nada assim, estava estarrecido,apenas, sem compreender o que havia acontecido.
O estagiário, então...
- mais café?
- o quê?
- mais café? – perguntou a secretária, que estava ao lado de Pedro, na salinha do lanche.
- não, obrigado – respondeu o estagiário.
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Por Marco Vicente Dotto Köhler.
8.10.06
Desentendimento...
Estava ele com os amigos no barzinho, relaxando e tomando chá de maçã com canela, enquanto alguns bebiam chá de flores do campo e outros aproveitavam o de frutas vermelhas, após um exaustivo jogo de xadrez, quando algo vibrou em cima da mesa, fazendo o líquido em sua xícara ondular como um lago atingido por um punhado de pequenas pedras.
Era o telefone celular, implacável.
- alô?
- oi, querido, que saudade...
- oi, amor, como você está?
- estou bem, e você?
- um pouco exausto após escapar de oito xeques e três avanços da rainha e uma dezena de perigosos ataques das torres e bispos...
- mas você venceu?
- sim, consegui um xeque mate na terceira hora da batalha. – e continuou - bom, não é mesmo?
- ótimo, querido, muito bom, mesmo!
- onde você está agora, meu amor?
- no banheiro, querida.
- no banheiro?
- é, sabe como é... o chá...
- em que banheiro você está?
- como em que banheiro? No banheiro de casa.
- da sua casa?
- isso no...
- não! Eu estou no banheiro da tua casa!
- mas...
- mas, nada! Não venha com desculpas! Não agüento mais essas tuas partidas de xadrez, os chás, onde já se viu uma coisa dessas?
- mas, querida, é que eu...
- é que você, não! Não me faça ouvir isso!
- está bem, prometo que...
- você não promete mais nada! Acabou!
- não, não faça isso...
- não sou eu...
- mas você disse que acabou!
- acabou a bateria do telefone! Quando você voltar para casa, não esqueça do tabuleiro.
- ta bom, mais alguma coisa?
- não, era isso, um beijo. Te amo.
- também te amo, querida.
- tchau.
Silêncio. Não houve resposta alguma, a bateria acabara.
__
Por Marco Vicente Dotto Köhler
Era o telefone celular, implacável.
- alô?
- oi, querido, que saudade...
- oi, amor, como você está?
- estou bem, e você?
- um pouco exausto após escapar de oito xeques e três avanços da rainha e uma dezena de perigosos ataques das torres e bispos...
- mas você venceu?
- sim, consegui um xeque mate na terceira hora da batalha. – e continuou - bom, não é mesmo?
- ótimo, querido, muito bom, mesmo!
- onde você está agora, meu amor?
- no banheiro, querida.
- no banheiro?
- é, sabe como é... o chá...
- em que banheiro você está?
- como em que banheiro? No banheiro de casa.
- da sua casa?
- isso no...
- não! Eu estou no banheiro da tua casa!
- mas...
- mas, nada! Não venha com desculpas! Não agüento mais essas tuas partidas de xadrez, os chás, onde já se viu uma coisa dessas?
- mas, querida, é que eu...
- é que você, não! Não me faça ouvir isso!
- está bem, prometo que...
- você não promete mais nada! Acabou!
- não, não faça isso...
- não sou eu...
- mas você disse que acabou!
- acabou a bateria do telefone! Quando você voltar para casa, não esqueça do tabuleiro.
- ta bom, mais alguma coisa?
- não, era isso, um beijo. Te amo.
- também te amo, querida.
- tchau.
Silêncio. Não houve resposta alguma, a bateria acabara.
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Por Marco Vicente Dotto Köhler
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