Na noite anterior, ao deitar-se, sentiu algo estranho, como nunca havia sentido antes. Sempre deixava aberta a janela do seu quarto, no terceiro andar de um prédio de um pequeno condomínio residencial.
Gostava de ver o céu, as estrelas... Não entendia como o homem podia se julgar a sós nesse universo tão vasto, cheio de mistérios. Teorias. Pensava serem mais próximas de uma possível “verdade” as teorias que lera certa vez no livro “Eram os Deuses astronautas?”, cujo autor não se recordava. Mas o admirava.
Naquela noite, porém, não conseguiu deixar a janela aberta. Algo havia mudado, mas ainda não compreendia o quê, mas sabia que daquele dia em diante sua vida não seria mais a mesma. Nunca mais.
A noite passou.Acordou. Levantou-se da cama, foi ao banheiro. Em frente ao espelho não conseguia se reconhecer. Também não sabia o que havia mudado. Mas havia. Assimilar era questão de tempo.
Tomou o café da manhã. Saiu do apartamento. Desceu as escadas. Tudo aparentava uma certa normalidade, mas, desconfiado, preferiu manter-se atento e cauteloso. Tinha razão em ficar alerta. Mal sabia o que o aguardava além porta do prédio.
Sentiu um arrepio na nuca, como se alguém tivesse assoprado-lhe levemente. Pensou por um segundo e resolveu olhar para trás para certificar-se de que não havia ninguém ali. Virou-se e olhou, enquanto abria descuidadamente a porta à sua frente. De fato não tinha ninguém no corredor, atrás dele, mas, ao olhar para frente, já com a porta aberta, ficou sem reação. Imóvel. Estático. Pasmo. Estarrecido, enfim.
O que via diante de si não podia ser verdade. Não podia acreditar. Mas acontecera.
Mesmo com a reunião de mais de três mil dos mais bem capacitados cientistas do mundo todo para solucionar o problema, não fora possível evitar o triste fim. Era o caos: seu mundo ruíra. Não havia mais o que fazer, senão aceitar o que o destino lhe impusera sem dó nem piedade: “Plutão não era mais um planeta”, dizia a manchete, e, abaixo “é considerado agora um planeta-anão”.
Como viveria de agora em diante, sabendo que Plutão não é mais um planeta, mas um planeta-anão? Não sabia. Ninguém poderia saber.Mas tinha certeza de que a vida no planeta Terra nunca mais seria a mesma, nem para ele, nem para qualquer outro dos seis e tantos bilhões de habitantes após esse fato de vital importância.