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17.8.06

Conto - II

Mas...

Viu-a, pela primeira vez em frente a uma estante em um corredor de uma livraria.
Ele, procurando, ansiosamente por um determinado livro, que há muito desejava.
Ela, tranqüilamente, de pé, lia na contra-capa de um livro de cor branca a sinopse do que continham aquelas páginas.
Sem dar muita importância àquela moça, foi embora sem ter encontrado o desejado livro.
*
Já havia ele quase terminado de comer o pastel. O café, com creme e pouco açúcar, estava à meia-xícara. Ela sentava-se à uma mesa próxima, sem vê-lo.
Observou-a desde o momento que adentrava no estabelecimento. Acompanhou seus movimentos, a difícil escolha entre o pão-de-queijo e a massa folhada de frango e catupiry. Decidiu-se e, num movimento certeiro, pegou o sanduíche natural. Dois passos à frente, à direita, estavam as bebidas aguardando a escolha. Esta foi fácil: foi direto ao natural suco de laranja extraído de uma máquina transparente.
*
Ele, agora, que já havia comido o pastel, elogiava mentalmente as mãos que fizeram aquela massa e prepararam o pastel, recheado por um ótimo queijo.
Enquanto aguardava o troco, ela ajeitou os cabelos, conferindo o resultado vendo-se em um vidro que continha o nome da cafeteria em letras imitando a grafia humana e um desenho de uma xícara, feitos a jato de areia, preso à parede, atrás da balconista, que lhe alcançava o troco, colocado na bolsa sem ser conferido.
*
O café já estava quase no fim, mas ainda quente. Bebeu-o, sentindo o gosto nos lábios um pouco lambuzados de creme, retirado com um hábil movimento da língua.
Já sentada, distraída, à mesa com lugar para quatro pessoas, que poderiam dispor-se em dois pares, um frente ao outro. Mas ela estava sozinha.
A cafeína já estava no sistema nervoso central quando ele teve um insight, um estalo, uma visão, e pensou, balbuciando até: Claro! É o destino! Só pode ser!
Levantou-se, decidido, certo do que o aguardava. Foi até a mesa dela, aproximou-se devagar, olhou-a.
*
Ela, percebendo aquele estranho à sua frente, ficou olhando para ele, e quando ia falar-lhe algo, ele disse:
- Foi o destino! Sempre soube que esse momento iria chegar... só pode ser isso!
- Mas... – tentou indagar ela, sem que ele a deixasse terminar o que mal começara a dizer. Ele acrescentou:
- Era como eu imaginava que seria. Você, eu... os sinais... as coincidências... o universo conspirando a favor, nos unindo... Não... Na verdade acho que não!
- Mas... – Tentou ela mais uma vez.
- Não, moça, nem precisa dizer. Já sei. Pra ser sincero também desconfiei... Ah! Tinha razão aquele pinguinho de dúvida... Não poderia ser! Desculpe o inconveniente, tenha um bom dia, e aproveite o sanduíche... Se houver apetite, experimente o pastel de queijo, está muito bom, mesmo.
- Mas...
Antes que ela conseguisse dizer, ele já havia saído, rapidamente por entre as mesas, chegando à porta, depois à rua e misturando-se entre outros transeuntes solitários e seus destinos tortos.
- Mas... – Pensou ela, sem conseguir concluir o que pensava...

Um comentário:

Anônimo disse...

pô Marco fantástico o teu conto, esse "pingo" de mistério e essa pitada de surpresa que virá por ai ainda... muito bom mesmo
sempre surpreendendo ein marcolino
abração ai ein e parabens por estar escrevendo a cada dia coisa interessantes e criativas...
abraço